Guilherme Arinelli

O lugar da Psicologia no Ensino Médio: a arte como mediação do trabalho com adolescentes

Como a Psicologia pode contribuir para a melhor compreensão da vivência de jovens do período pré-vestibular? Essa foi uma das perguntas sustentadas no presente artigo.

Sabemos que o surgimento dos vestibulares no Brasil, enquanto exames de admissão ao Ensino Superior, remonta a 1911. A partir de então, o Ensino Superior passou a se constituir como um percurso quase natural aos jovens das classes média e alta que finalizavam o Ensino Médio, muitas vezes entendido como o único modo de acesso ao mundo do trabalho (Lautério & Nehring, 2012; Whitaker, 2010).

A valorização do Ensino Superior passou, então, a redirecionar o enfoque do Ensino Médio brasileiro, especialmente no âmbito privado, que passou a constituir suas bases em um ensino melhor adaptado à preparação do aluno para o êxito e aprovação nos vestibulares. Para D‘Avila & Soares (2003) e Whitaker (2010), a preocupação com a aprovação nos processos seletivos das universidades também impactou na redução de espaços direcionados à busca e reflexão das profissões e dos processos de escolha.

Assim, o Ensino Médio, em especial no âmbito privado, passa a se preocupar quase exclusivamente com o preparo para o bom desempenho nos vestibulares. Este movimento potencializa o que alguns autores denominam de indústria do ensino por centrar-se nos retornos financeiros proporcionais ao investimento realizado (Alvim, 2011; D’Ávila & Soares, 2003). A finalidade principal se torna, portanto a garantia da vaga no Ensino Superior, sendo que outras dimensões da formação desses jovens acabam ficando restritas a projetos ou atividades extracurriculares.

O presente artigo, publicado na revista “Psicologia Argumento”, da PUC-PR, apresenta um recorte de uma dissertação de mestrado fundamentada nos pressupostos teórico-metodológicos da Psicologia Histórico-Cultural que objetivou investigar a vivência do período pré-vestibular por adolescentes. As informações foram construídas em 15 encontros, mediados por expressões artísticas, com um grupo de estudantes que cursavam o terceiro ano do Ensino Médio de uma escola particular.

Como resultado, evidenciou-se que muitos são os cenários que constituem as escolhas profissionais dos jovens e interferem na configuração dos seus modos de pensar o mundo e a si próprios, em relação à escolha da profissão e ao futuro. Há relevância do papel dos professores e da instituição escolar no direcionamento das escolhas dos adolescentes que parecem sucumbir à força exercida pelo social, afastando-se das possibilidades de protagonismo de suas histórias. Os encontros, mediados pela reflexão sobre suas condições de vida e futuro, se configuraram como possibilidade de ressignificação dessas relações.

Cabe questionar se nós, psicólogos, que ocupamos, muitas vezes, o lugar de orientadores profissionais nas escolas, estamos preparados para lidar com os silêncios e tensões e mesmo o sofrimento desses jovens que chegam até nós na ânsia de que os livremos da angústia da dúvida. Estaríamos dispostos a sair do lugar de preditores do futuro, de quem sabe o que o jovem quer e o que é melhor para ele? O que estamos fazendo com as possibilidades de escolha que o sujeito possui quando lhes damos respostas prontas sobre um futuro que não cabe a nós, enquanto profissionais, predizer ou imaginar? Se não é esse o trabalho do psicólogo orientador, qual seria?

Autores

Como citar:
Medeiros, F. P.; Arinelli, G. S., & Souza, V. L. T. (2018). O lugar da psicologia no ensino médio: a arte como mediação do trabalho com adolescentes. Psicologia Argumento, [S.l.], v. 36, n. 93, p. 313-327, nov. 2018. ISSN 1980-5942.

*Texto retirado de https://prosped.com.br/